Marcello
de Oliveira
Através das gerações, os judeus
tiveram uma longa lista de inimigos. Os antigos egipcíos os escravizaram, os
babilônios destruíram o templo, os grego-sírios empenharam-se em
substituir o judaísmo pelo helenismo e os romanos destruíram o segundo templo,
exilando-os da terra que o Eterno havia prometido a seus pais, Jerusalém. Mas,
dentre todos os seus inimigos, um deles é incomparável e sobressai em sua
malignidade – aquele cujo ódio pelo povo judeu não encontrou paralelos. Seu nome é Amalek.
A Torá, cuja autoria é divina e que
nos ensina a reverenciar a vida, a amar nossos semelhantes e não odiar nossos
inimigos – nem mesmo os egipcíos que cruelmente os escravizaram – é categórica
e implacável em se tratando de Amalek. “Lembra-te
do que fez Amalek em teu caminho de saída do Egito. Quanto te encontrou no
caminho e extirpou todos os que retardavam atrás de ti e tu estavas cansado e
exausto e (Amalek) não temeu ao Eterno. Portanto, quando, o Eterno, teu D’us,
te der descanso de todos os teus inimigos em volta de ti, na terra que o Eterno,
teu D’us, te está dando por herança para possuí-la, apagarás a memória de
Amalek de debaixo dos céus, não te esqueças” (Dt 25.17-19).
Amalek é identificado com a
destruição em virtude do grau de ódio que nutre pelo povo judeu. Diferentemente
de outros que perseguiram por razões políticas, econômicas, ideológicas ou
religiosas, Amalek odeia os judeus sem motivo. Seu ódio é irracional e sem
fundamento e extremamente poderoso. Amalek odeia os judeus simples e
exclusivamente pelo fato de serem judeus. A ele não importa se os judeus vivem
na terra de Israel, ou não; se são religiosos ou não; se são capitalistas ou
não; liberais ou conservadores. Para ele, todos os judeus são iguais: um
fenômeno indesejável que precisa ser extirpado da face da Terra.
Amalek, ainda, personifica a
antítese do povo judeu. É uma criatura totalmente destituída de fé: nem em
idolatria acredita. Seu objetivo básico é
a negação do direito de Israel à existência. Amalek é a base das forças do
mal neste mundo. Amalek não tem país, bandeira ou idioma. Assume identidades
múltiplas. Enquanto o povo judeu é transparente e se faz ver enquanto povo,
Amalek oculta sua identidade. Surge em épocas diferentes em diferentes lugares
e é mestre na arte do disfarce. Apesar de suas heresia, às vezes, até se
transveste com trajes religiosos. Como, então, identificá-lo?
Na história de Purim, no livro de
Ester, lemos acerca do ódio que Haman nutria pelo povo judeu. Um episódio que
se inicia com um conflito pessoal – a recusa de Mordechai de se curvar perante
Haman – resulta em um decreto de genocídio contra todos os judeus – homens,
mulheres e crianças. Ainda que Haman se sentisse insultado, não fazia sentido
incluir todo o “povo de Mordechai” em sua vingança. Obviamente, usou Mordechai
como pretexto para executar seus planos genocidas contra os judeus. Isso não
surpreende já que ele era descendente direto de Amalek.
Na verdade, Mordechai servia na
Corte – e até salvou a vida do rei de uma conspiração para assassiná-lo – e os
judeus contribuíam para o desenvolvimento do reino, como fazem em todos os
países onde residem. A acusação levada por Haman ao rei contra os judeus foi um
estratagema para que pudesse executar seus planos malignos. Sua luta contra o
povo judeu nada tinha a ver com o fato de seus membros se destacarem na
sociedade maior: originava-se em um ódio fundamental contra uma nação que
pertencia a um outro polo de existência. Haman e seus adeptos – os filhos de
Amalek – postavam-se de um lado, o lado da escuridão e da maldade, enquanto
Mordechai e seu povo se colocavam do outro – o lado da luz e da bondade.
Amalek e a origem do mal
Há um livro intitulado Conversas com Hitler, escrito por um
antigo membro do Partido Nazista e amigo de Hitler. Em um dos diálogos
registrados no livro, os dois conversam sobre os judeus e o autor diz a Hitler:
“Cá entre nós… Nós dois sabemos que
todas as imputações contra os judeus são falsas. Por que, então, você os
odeia?” Ao que Hitler respondeu: “Não
posso perdoar os judeus por terem inventado a moralidade” (grifo nosso).
A afirmação de Hitler é imprecisa.
É o Eterno e não os judeus a origem da moralidade. É Ele quem determina o que é
moral ou imoral, bom ou mau, certo ou errado. Mas os judeus foram, de fato,
escolhidos por Ele (Há Kadosh Barukh Hú) O Santo, Bendito seja o Nome Dele –
para serem seus porta-vozes. A afirmação de Hitler é imprecisa, mas
especialmente reveladora por deixar clara a natureza de Amalek, e – ainda mais
importante – por revelar a maneira como este vê o povo judeu.
Hitler, que personifica Amalek
ainda mais integralmente do que Haman, nutria um ódio pelos judeus que continua
a intrigar muitos. Por que ele, que estava tão determinado a conquistar o
mundo, iria desviar-se de seu empenho bélico para assassinar o máximo possível
de judeus? Historiadores, filósofos, teólogos, sociólogos tentam descobrir a
razão para tão profundo ódio. Mas, para os judeus, não precisam pesquisar o
passado de Hitler tão fundo em busca de uma explicação. Eles sabem exatamente
por que Hitler os odiava.
Ele odiava o povo judeu acima de
tudo porque nossa existência e essência representam tudo o que ele desprezava.
O judeu, enquanto porta-voz de D’us, deve ser o representante do Divino no mundo.
É isso o que mais enfurece Amalek. Esta força do mal pretende extirpar D’us do
mundo. É reveladora a frase de Hitler que lutaria contra os judeus por ser sua
forma de lutar contra D’us. Como Amalek não consegue lutar contra o Eterno, ele
vai atrás de seus filhos.
Fonte:
Davar Elohim
Divulgação:
www.juliosevero.com
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