Juntos, os 25 condenados pelo mensalão terão que pagar uma multa de
mais de R$ 22 milhões, a preços de 2003 a 2005 que serão ainda
atualizados pela inflação. A cúpula do PT condenada no processo deve
junta cerca de R$ 1 milhão e 800 mil de multas, assim distribuídos: José
Dirceu R$ 676 mil; José Genoino R$ 468 mil; Delúbio Soares: R$ 325 mil e
João Paulo Cunha R$ 370 mil. Um grupo de militantes denominado
Juventude Petista do DF, que tem Delubio Soares como mentor (não é
ironia, é verdade) começou ontem à noite com um jantar em uma galeteria
brasiliense, com convites que variavam de R$ 100 a R$ 1.000, movimento
para angariar doações para ajudar a pagar essas multas.
É uma
solidariedade partidária que seria natural, não fossem as acusações
contra esse grupo de petistas condenados. A “juventude petista” se
mobilizar, assim como alguns petistas de grosso calibre como o
governador de Sergipe Marcelo Deda, dá a manifestações como essa, que
pretendem replicar pelo país, tom de apoio oficial aos condenados.
O
PT não apenas não fez sua autocrítica como continua apoiando os
condenados no processo do mensalão. É uma atitude meramente política,
para tentar dar a impressão de que houve um julgamento parcial, de
exceção. O PT faria melhor se tratasse de sua vida esquecendo esse
episódio, que só faz marcá-lo negativamente. Ao contrário, aprofunda
essa ligação com os condenados e com os próprios crimes que foram
cometidos no mensalão.
É um absurdo que o PT como partido
incorpore essas práticas criminosas de fazer política com o apoio tácito
aos condenados. O PT perde a cada dia a oportunidade de se refundar,
embora alguns petistas importantes como o governador Tarso Genro, do Rio
Grande do Sul, defendam essa necessidade e não é de hoje. Mas não é
esse o espírito geral do partido, que continua dominado pelo grupo do
ex-ministro José Dirceu, considerado “o chefe do esquema criminoso” e
condenado por formação de quadrilha e corrupção ativa pelo Supremo.
Essas
atitudes refletem uma realidade política: o partido continua nas mãos
daquela cúpula que foi condenada no processo do mensalão. O triste papel
dessa “juventude petista” repete a atuação de entidades estudantis
chapa-branca como a União Nacional dos Estudantes (UNE), que desde a
chegada do PT ao poder apoia os projetos do Palácio do Planalto, em
troca de benesses variadas, entre as quais uma verba de R$ 40 milhões
para a construção de uma nova sede na Praia do Flamengo no Rio. Vários
desses “benefícios” oficiais estão sob investigação do Tribunal de
Contas da União.
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso
Genro, integra uma corrente minoritária no PT, “Mensagem ao Partido”,
que tem em torno de 40% dos delegados, e quer que o partido passe por
uma “profunda renovação”, de métodos e de práticas políticas. Genro faz
todas as ressalvas do mundo sobre o julgamento, critica a utilização da
tese do “domínio do fato” para a condenação de José Dirceu, mas alerta:
“Tendo ocorrido ilícitos penais ou não, os métodos de composição de
maiorias e de formação de alianças que nós utilizamos foram os mesmos
métodos tradicionais que os partidos que nós criticávamos adotavam”.
Esses
“métodos tradicionais” herdados da República Velha teriam que ser
substituídos, e o governador do Rio Grande do Sul diz que a maneira como
Dirceu está enfrentando a condenação “é equivocada” porque “tende a
estabelecer uma identidade dos problemas que ele está enfrentando com o
problema do PT, com o conjunto, e trazendo para a sua defesa o partido
como instituição”. Essa “identidade forçada dele em conjunto com o
partido” é uma coisa “que não existe”, afirma Genro. Exista ou não, o
fato é que o partido é dominado pela facção “Construindo um novo
Brasil”, que une Lula e José Dirceu, e não tem o menor pudor de defender
os condenados pelo mensalão, uma mácula permanente na história do
Partido dos Trabalhadores.
FONTE: oglobo.globo.com
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