20 de jan. de 2013

Vaquinha petista

Juntos, os 25 condenados pelo mensalão terão que pagar uma multa de mais de R$ 22 milhões, a preços de 2003 a 2005 que serão ainda atualizados pela inflação. A cúpula do PT condenada no processo deve junta cerca de R$ 1 milhão e 800 mil de multas, assim distribuídos: José Dirceu R$ 676 mil; José Genoino R$ 468 mil; Delúbio Soares: R$ 325 mil e João Paulo Cunha R$ 370 mil. Um grupo de militantes denominado Juventude Petista do DF, que tem Delubio Soares como mentor (não é ironia, é verdade) começou ontem à noite com um jantar em uma galeteria brasiliense, com convites que variavam de R$ 100 a R$ 1.000, movimento para angariar doações para ajudar a pagar essas multas.

É uma solidariedade partidária que seria natural, não fossem as acusações contra esse grupo de petistas condenados. A “juventude petista” se mobilizar, assim como alguns petistas de grosso calibre como o governador de Sergipe Marcelo Deda, dá a manifestações como essa, que pretendem replicar pelo país, tom de apoio oficial aos condenados.

O PT não apenas não fez sua autocrítica como continua apoiando os condenados no processo do mensalão. É uma atitude meramente política, para tentar dar a impressão de que houve um julgamento parcial, de exceção. O PT faria melhor se tratasse de sua vida esquecendo esse episódio, que só faz marcá-lo negativamente. Ao contrário, aprofunda essa ligação com os condenados e com os próprios crimes que foram cometidos no mensalão.

É um absurdo que o PT como partido incorpore essas práticas criminosas de fazer política com o apoio tácito aos condenados. O PT perde a cada dia a oportunidade de se refundar, embora alguns petistas importantes como o governador Tarso Genro, do Rio Grande do Sul, defendam essa necessidade e não é de hoje. Mas não é esse o espírito geral do partido, que continua dominado pelo grupo do ex-ministro José Dirceu, considerado “o chefe do esquema criminoso” e condenado por formação de quadrilha e corrupção ativa pelo Supremo.

Essas atitudes refletem uma realidade política: o partido continua nas mãos daquela cúpula que foi condenada no processo do mensalão. O triste papel dessa “juventude petista” repete a atuação de entidades estudantis chapa-branca como a União Nacional dos Estudantes (UNE), que desde a chegada do PT ao poder apoia os projetos do Palácio do Planalto, em troca de benesses variadas, entre as quais uma verba de R$ 40 milhões para a construção de uma nova sede na Praia do Flamengo no Rio. Vários desses “benefícios” oficiais estão sob investigação do Tribunal de Contas da União.

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, integra uma corrente minoritária no PT, “Mensagem ao Partido”, que tem em torno de 40% dos delegados, e quer que o partido passe por uma “profunda renovação”, de métodos e de práticas políticas. Genro faz todas as ressalvas do mundo sobre o julgamento, critica a utilização da tese do “domínio do fato” para a condenação de José Dirceu, mas alerta: “Tendo ocorrido ilícitos penais ou não, os métodos de composição de maiorias e de formação de alianças que nós utilizamos foram os mesmos métodos tradicionais que os partidos que nós criticávamos adotavam”.

Esses “métodos tradicionais” herdados da República Velha teriam que ser substituídos, e o governador do Rio Grande do Sul diz que a maneira como Dirceu está enfrentando a condenação “é equivocada” porque “tende a estabelecer uma identidade dos problemas que ele está enfrentando com o problema do PT, com o conjunto, e trazendo para a sua defesa o partido como instituição”. Essa “identidade forçada dele em conjunto com o partido” é uma coisa “que não existe”, afirma Genro. Exista ou não, o fato é que o partido é dominado pela facção “Construindo um novo Brasil”, que une Lula e José Dirceu, e não tem o menor pudor de defender os condenados pelo mensalão, uma mácula permanente na história do Partido dos Trabalhadores.
FONTE: oglobo.globo.com 
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