Assessores parlamentares do PT, PV e PSOL participam regularmente de protestos que atormentam o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Marco Feliciano (PSC-SP). E que agora terminam em violência
Gabriel
Castro, de
Brasília
Nas últimas quatro semanas, a
presença do deputado Marco Feliciano, do PSC, no comando da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara tem provocado protestos de militantes do movimento
LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), insuflados por parlamentares
do PSOL e do PT. Nesta quarta-feira, durante o tumulto que terminou com uma
pessoa detida pela Polícia Legislativa, um detalhe chamou a atenção: os crachás
de funcionários da Câmara – alguns à mostra, outros escondidos – pendurados no
pescoço dos manifestantes. Misturados ao grupo que tem promovido os protestos, são funcionários de gabinetes da Câmara,
pagos com dinheiro público, em horário de expediente de trabalho.
Tiago Oliveira, assessor da liderança do PV e Rodrigo Cademartori, assessor de Érica Kokay em protesto contra o deputado Marco Feliciano (Gabriel Castro) |
Tiago Oliveira, assessor do PV,
também resolveu usar o tempo de trabalho
para protestar contra Feliciano. "Hoje não tenho nada na agenda",
disse ele, candidamente, ao site de VEJA nesta quarta-feira. Sem esconder que usa o horário de trabalho
para fazer militância, o assessor até aceita posar para foto. Ironicamente,
o patrão de Tiago, o líder do PV, Sarney Filho (PV-MA), indicou um pastor
evangélico para a comissão: Henrique Afo nso (PV-AC), que ajudou a eleger
Feliciano.
Os comissionados do PSOL são mais
discretos: dão suporte aos manifestantes sem repetir as palavras de ordem
gritadas pelos corredores da Câmara. Um deles, identificado como Alexandre, é
assessor da liderança do partido na Câmara. Na última quarta, ele orientava os
manifestantes sobre o melhor roteiro a ser percorrido dentro do Congresso.
Indagado pelo site de VEJA, Alexandre disse apenas que estava lá para impedir
abusos.
Outra assessora, apontada pelo
próprio Alexandre como funcionária do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), também
auxilia os militantes — alguns deles, filiados ao PSOL. Também havia
representantes do PSTU no movimento contrário a Feliciano. E nem sempre os
representantes dos partidos envolvidos nos protestos se entendem: na última
manifestação, quando uma manifestante ligada ao PSTU lançou críticas à
presidente Dilma Rousseff, Rodrigo Cademartori, ou "Pilha", reagiu e
chamou a jovem de "aparelhista" — seja lá o que isso significar.
O grupo de parlamentares de siglas
de esquerda e militantes dos movimentos LGBT acusam o pastor de ter dado
declarações racistas e homofóbicas. Desde então, Feliciano tem enfrentado
transtornos nos corredores do Congresso, anda escoltado por seguranças e tem
sido impedido de comandar as atividades da comissão. Ele também virou alvo de
ataques nas redes sociais.
Pastor da Igreja Assembleia de Deus
e deputado federal de primeiro mandato, Marco Feliciano enfrenta a resistência
de partidos de esquerda que tradicionalmente reivindicam o comando da comissão,
mas abriram mão do posto neste ano e agora não aceitam a indicação de um pastor
evangélico para a cadeira. No caso do PT, o partido não pleiteou a presidência
do colegiado para ter o direito de chefiar comissões consideradas mais nobres,
como a de Constituição e Justiça (CCJ), que abriga os mensaleiros José Genoino
(SP) e João Paulo Cunha (SP), ambos condenados pela Justiça. Ou seja, pelo
acordo fechado previamente entre os partidos, a presidência da Comissão de
Direitos Humanos é cota da bancada do PSC e cabe ao partido escolher seu
representante, o que torna a indicação de Feliciano legítima.
Violência
— Nesta quarta-feira, depois que Feliciano mudou o local da reunião e manteve
os manifestantes do lado de fora, eles resolveram ir até o gabinete do
deputado. Impedidos por seguranças, que formavam uma barreira em um corredor do
anexo 4, os militantes tomaram a iniciativa; em vantagem numérica, deram empurrões
nos funcionários da Câmara e geraram um grande tumulto. Um jovem foi detido: Allysson Prata, que é funcionário da
Administração Regional de Ceilândia, uma espécie de subprefeitura mantida pelo
governo do petista Agnelo Queiroz no Distrito Federal.
Prata é ligado à deputada distrital
Luzia de Paula (PEN). Presença constante nos protestos contra Feliciano, o
jovem chegou a ser detido pela Polícia Legislativa quando tentava invadir o
gabinete de Marco Feliciano nesta quarta-feira. Allysson usa sua página no Facebook para convocar os militantes de
esquerda para os protestos contra o presidente da Comissão de Direitos Humanos.
Não se sabe em que momento ele bate ponto no trabalho.
Não só os funcionários do
Legislativo fogem do trabalho para aderir à mi litância: Jandiara Machado é
funcionária do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, onde o expediente
ocorre só durante a tarde. Mas, por volta das 15h desta quarta, ela estava na
Câmara dos Deputados para protestar contra Feliciano. E se justificou: "Depois
eu faço reposição de horário". Até agora, os militantes profissionais não
anunciaram nenhum protesto contra funcionários públicos que se ausentam das
funções durante o horário de trabalho.
Fonte:
Revista
Veja
Divulgação:
www.juliosevero.com
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